Diante da dificuldade do presidente Jair Bolsonaro em conseguir as 500 mil assinaturas para registrar seu novo partido, Aliança Pelo Brasil, o líder da Igreja Universal, Edir Macedo, ofereceu-se para passar a lista em seus templos espalhados pelo país.
Macedo tem know-how nesse tipo de tarefa. Na campanha presidencial de 2006, o bispo, que naquele momento apoiava Lula, fez o mesmo para viabilizar o Partido Municipalista Renovador, paradeiro do vice-presidente José Alencar, que deixava o PL após os escândalos do Mensalão.
A operação é contada no livro “O Reino – A história de Edir Macedo e uma radiografia da Igreja Universal” (Cia. das Letras), do jornalista Gilberto Nascimento, que chegou hoje às livrarias. “Com a filiação em massa de aliados, os seguidores do bispo se consolidaram no poder dentro da nova agremiação e mudaram o nome para Partido Republicano Brasileiro, PRB, um mês depois”, relata ele, na obra.
O autor conta vários aspectos da ascensão de Macedo e sua igreja, mas um dos mais curiosos é justamente o que mostra como, nos últimos anos, ele avançou na política e saltou do apoio incondicional aos governos do PT para um antipetismo exacerbado.
Dois anos depois da vitoriosa campanha presidencial de 2006, Macedo apresentou publicamente a estratégia para conquistar espaço nos três poderes do Estado brasileiro. Ele foi um dos autores do livro “Plano de poder: Deus, os cristãos e a política”, marco que delimita as posições da Universal em vários temas, com o objetivo de chegar ao centro decisório e influenciar em vários campos da vida do país. É com base nessa cartilha que o grupo do bispo se movimenta.
Em 2010, conta Gilberto Nascimento, novamente Macedo, sua igreja e seu canal de televisão (a TV Record) apoiaram o PT à presidência, dessa vez com a candidata Dilma Rousseff. Para defendê-la, Edir Macedo se esmerou em rebater junto a seus fiéis a fama de que ela fosse herege. “Quem pensa que está prestando algum serviço ao Reino de Deus, espalhando uma informação sem ter certeza de sua veracidade, na verdade, está fazendo o jogo do diabo”, escreveu o bispo, em seu blog.
Para defender Dilma, Macedo bateu boca com o seu concorrente, Silas Malafaia, a quem chamou de “falso profeta” por atacar a petista. Malafaia, por sua vez, disse que o bispo era o “único pastor do mundo que é a favor do aborto”.
O líder da Universal manteve o apoio a Dilma na reeleição. Só desembarcou em 2018, quando começou a campanha presidencial. Gilberto Nascimento explica o motivo de Macedo ter rejeitado apoiar Fernando Haddad: “Quando titular da pasta da Educação na gestão petista, Haddad já havia provocado a ira de Macedo ao resistir à ideia de a Universal criar uma universidade própria. Após essa recusa, segundo assessores, o ministro passou a receber críticas de evangélicos por, supostamente, ser o responsável pelo lançamento de um “kit gay” nas escolas, termo pejorativo para se referir ao programa Escola sem Homofobia, na verdade uma iniciativa do Legislativo”.
A princípio, o bispo apoiou Geraldo Alckmin, mas, diante dos resultados pífios do tucano nas pesquisas, abraçou a candidatura de Jair Bolsonaro, que já tinha Malafaia em suas fileiras.
Ao decidir dar sua primeira entrevista depois de eleito à TV Record e não à Globo, Bolsonaro conquistou de vez a fidelidade de Macedo.
Deu-se assim a histórica reviravolta político-religiosa que até hoje mantém o PT como alvo de ataques da Igreja Universal e da TV Record. O livro “O Reino – A história de Edir Macedo e uma radiografia da Igreja Universal” mostra que o bispo mantém a estratégia traçada há 11 anos, no seu “Plano de poder”. Pelo visto, está dando certo.
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